“A Smooth FM é um novo campeonato
da rádio”
Há um ano em fase de teste e em emissão online apenas para
alguns privilegiados, a Smooth FM, que entrou no ar às 18h30 do dia 21 de
Setembro, veio substituir a Best Rock FM, num projecto único até aos dias de
hoje no nosso país.
“A Media Capital Rádios informa que o projecto Best
Rock FM está em processo de reformulação devido às fracas audiências que tem
vindo a registar. Esta situação tornou o projecto economicamente inviável, pelo
que foi decidido a sua reformatação. (…) Percebendo o natural desgosto dos
ouvintes fãs da estação, lamentamos profundamente a decisão tomada que, embora
emocionalmente muito penosa para nós, era a única possível neste momento”.
Apesar de continuar a emitir, foi assim que a Best Rock se despediu
oficialmente dos seus (já poucos) ouvintes.
Depois do encerramento do Rádio Clube Português,
envolto em polémica pelo despedimento de vários jornalistas, a Média Capital
Rádios (MCR) volta a reformular mais estações. Desta vez, desapareceram a Best
Rock FM e a Mix FM, que cedeu a sua frequência à recém-nascida Smooth FM.
Chego às instalações da Media Capital Rádios por
volta das 9h15 do dia 23 de Setembro, enquanto aguardo pelo sr. Nuno Gonçalves,
director de programas da Cidade FM e da mais recente coqueluche, Smooth FM.
Depois de ser recebida por uma estagiária, esta leva-me até ao 2º andar do
edifício e eu vou espreitando as régies e os estúdios que o meu olhar consegue
alcançar. O ambiente é frenético, mas igualmente animado. Ainda é cedo e os
programas da manhã vão aquecendo. Vislumbro os estúdios da Comercial e da m80,
mas o passo da estagiária é tão apressado que quase a perco de vista. Entramos
num elevador antigo, tão típico destes prédios alfacinhas, e sou recebida
entusiasticamente pelo sr. Nuno, que depressa me indica o caminho para o seu
gabinete.
Nuno Gonçalves está na Media Capital Rádios há 9
anos. Esteve dois anos e meio na Rádio Comercial, em sobreposição com a Cidade
FM, mas depois dedicou-se exclusivamente a esta última e agora também à Smooth
FM. Explica-me que a nova estação é dirigida a um público adulto e sofisticado,
que se insere nas classes média-alta e alta e cujas melodias são à volta do
jazz, soul e blues.
Uma das minhas preocupações, que partilho com o sr.
Nuno, é o que irá acontecer a quem trabalhava na Best Rock e na Mix. “Não havia
ninguém na Mix”, esclarece-me. “A Mix FM nasceu com alguma força e perdeu algum
significado quando a Cidade cresceu e começou a ocupar muito espaço. Ela mal
conseguia ser mais do que uma rádio focada naquela sub-espécie muito particular
que vive para a noite (donos de discotecas, seguranças, rp’s)”. Conta-me também que, como a MCR é um grupo grande,
há pessoas a trabalhar “em duplicado”. E isso também abrange quem trabalhava na
Best Rock. “Aqui pode reajustar-se a posição das pessoas. A vantagem de
estarmos num grupo deste tamanho é haver mobilidade”. E dá exemplos: “O Pedro
Marques passou para a m80, o Wilson Honrado para a Comercial. São evoluções
naturais dentro do grupo. Não há aquele stress de estar a segurar pessoas que
estão desconfortáveis ou de estar a dispensar pessoas nas quais investimos”.
Mais descansada, foco-me então na
novidade da MCR, a Smooth. A rádio já estava a rodar online há cerca de um ano,
para um certo grupo de contactos relevantes. Toda a gente que a ouvia ficava
espantada e muito deliciada com este novo projecto e ele já estava estruturado
em termos de estética e de playlist desde
Maio. O seu lançamento aconteceu no Sky Bar, no terraço do Hotel Tivoli. O objectivo
foi criar um ambiente semelhante a um
cocktail, ambiente esse que resultou, estando o bar apinhado com pessoas
ligadas à música, aos média e agentes publicitários. Com a actuação da cantora
Adriana, o ambiente de música mais sofisticada foi claramente obtido.
A Media Capital Rádios faz questão
que as suas estações não compitam umas com as outras. Nuno Gonçalves explica-me
as diferenças entre elas. “Como grupo, nós temos um portfólio largo e cada uma
das estações tenderá a ter uma função, quer em termos demográficos, quer em
termos de mercado publicitário. A Rádio Comercial é a rádio jovem adulta e com
humor; a m80 funciona de uma forma um pouco alternativa, funciona também com
adultos, mas de uma forma revivalista, é menos recorrente do que a Rádio Comercial,
não é tão trancada demograficamente; a Star FM é uma estação para abranger
gente mais velha; a Cidade FM é a rádio mais jovem do grupo e tem a obrigação
de ter uma performance boa até aos 25 anos e não para além disso”. Surgiu,
então, a necessidade e a oportunidade de criar uma rádio direccionada para um
público adulto, mas mais sofisticado. “Enquanto que as outras rádios nascem
normalmente de uma definição de uma música de gosto para determinados tipos
demográficos, a Smooth aparece claramente como uma estação de nicho, em que é nitidamente
pensada primeiro para um grupo demográfico (adultos de classes A e B) e é a
partir daí que nós vamos fazer uma análise de música. Ela é pensada como uma
estação que não atrapalha a vida de ninguém”. Traduzindo, não atrapalha as
audiências da Rádio Comercial e da m80. “A Smooth FM é um novo campeonato da
rádio”.
Depois de uma breve visita aos
estúdios da Cidade FM, com a oportunidade de conhecer a equipa da manhã, o sr.
Nuno convida-me a conhecer parte da equipa e o estúdio da Smooth FM. Depois de
me ser apresentada a sala de produção, sento-me à conversa no estúdio com o sr.
Nuno e a Joana. A Joana é jovem, recém-licenciada em Comunicação Social
e uma autêntica sortuda. Esteve a estagiar durante 6 meses na Cidade FM e foi
convidada para fazer parte da equipa como produtora. Já lá vão 10 meses desde
que pisou as instalações da MCR pela primeira vez. O seu estilo é a cara da
estação. Jovem-adulta, mas sofisticada. O estúdio cheira a novo. As paredes são
pretas e vermelhas, tal como a imagem do site
da rádio. Quando lhe pergunto a sua opinião em relação a este projecto, a Joana
diz-me que é “brutal”. “É totalmente a minha cara, o meu estilo”. Nunca pensou
ficar na MCR. “O meu plano era fazer o estágio e prosseguir para Mestrado, mas
fiquei”. O facto de acompanhar o nascimento de um projecto destes foi ainda
mais motivador.
Com blues como fundo, vou observando tudo à minha volta. O estúdio é
arejado. Tem janelas altas, é iluminado, tranquilo. Na parede está escrito o slogan da Smooth: “And all that Jazz”. O
objectivo é transmitir a ideia de que a estação não passa só Jazz, como também
R&B mais antigo, bossa-nova e blues. Para já, ainda só contam com duas
locutoras: Teresa Fernandes, que faz a manhã, e Sofia Morais, resgatada da
Comercial, que faz as tardes. Nuno confessa-me que estão a ser dados “baby
steps no que toca à comunicação”. As personalidades das locutoras vão sendo
construídas conforme o feedback que estas vão recebendo. “A última coisa que
queremos é que, ao fim de 30 segundos, o ouvinte que está a gostar da música
queira que ela se cale e que ponha música. É por isso que o tipo de comunicação
é muito cuidado e trabalhado”.
Nuno Gonçalves diz-me ainda que
Pedro Ribeiro, director de programas da Comercial “rói-se de inveja de mim, por
eu ter a Smooth, e ouve-a a caminho de casa e diz ‘Desgraçado, estás a fazer
uma rádio incrível!’”.
Até agora, a Smooth está a funcionar
tal como o pretendido. Uma rádio única, com ambições moderadas, mas
sofisticadas, e com um traço elitista.
“Bem-vindos à Smooth FM
“and all that Jazz. Em directo do
terraço do Hotel Tivoli, este é o lançamento de uma nova rádio em Portugal para
fazer parte da sua vida a partir de agora. Queremos que a descubra em 103.0 em
Lisboa, em 92.8 no centro do país e também em Smoothfm.clix.pt. Fazer parte de
um projecto que é a nossa cara é fantástico. Saber que podemos contar consigo a
partir de agora é maravilhoso. ‘It’s wonderful’, de Diana Krall”. Sky Bar,
Hotel Tivoli, 18h30 do dia 21 de Setembro.
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